quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Silenciou

Silenciou.
Silenciou meu canto, canção de amor e cura.
Silenciou o sonho, o som, a calma.
Silenciou você, saudade. Silenciou vontade.
As novas idas e vindas, os velhos e descarados joguinhos infames de amor.
Dos olhos silenciou o olhar, e a sirene de alerta da razão.
A fala envergonhada o rubor na face silenciou.

O medo de encarar, a fala fingida, a mentira, a verdade da prosa pela intenção a intenção silenciou.
Silenciou...
Silenciou.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Sabem-nos como mais um pedaço de si. Mais um pedaço bem grande, enigmático, interessante. Sabem-nos próximos e infinitamente distantes. Sabem-nos seus, mas, concomitantemente, na mesma forma irreal, desconjunta, inevitavelmente solta, sob todos os aspectos, logo a partir do corte daquele bendito cordão...

domingo, 25 de novembro de 2012

Todas as muitas vezes em que chorou, pela única em que não o fez. Há pouco, esses tantos medrosos incontidos soluços, pelo todo que se segurou. Agora a hora em que o açucar perde um pouco o doce, pede um pouco a pausa; o inconjunto, insalubre, um pouquinho da falta de gás dessa chama que mal disfarça. Um pouquinho do rarefeito, do gosto do pão de ontem. Um pouco de frase feita. Descanso. Mas não perde a pose.

domingo, 7 de outubro de 2012

Noite acaba

Essa noite acaba pleno feito, feito todo.
Todo tempo o tempo todo.
Todo espaço, curto tempo.
Toda vida num relance.
Findo. Sempre.
Sempre recomeço, sempre o sempre e sempre o novo.
Essa noite acaba nem orgasmo nem matéria.
Fim de festa. Ninguém dorme.
Cada peça desse todo,
todo todo em plena forma,
cada um que se aniquila e desenvolve.
Fim de feira, o gosto do cigarro pra quem sabe ter assunto.
Pra quem sabe ser assunto toda letra basta.
E não sacia.
Forte. Nu na cabeceira. Paz na cama.
Noite quente, fim de noite.
Ninguém dorme ninguém dorme.

domingo, 30 de setembro de 2012

E nem lhe dedico

Carinho, castigo, pecado, desejo.
Um prêmio, vingança, blasfêmia, sarcasmo.
Retrato antigo, casal fotogênico.
Me fala, me suga, me instiga, me cansa.
Me sorve, absorve, me morde ao que late.
De tanto que late que late que late.
Vanildo Machado diria quilates, só pra pegar forma e chamar poesia.
Chamar poesia.

sábado, 22 de setembro de 2012

Eles dois - famigerada colher na briga entre marido e mulher

Não, acho que não, acho que apenas para eles é que fazia sentido algum perdão ou não, alguma busca ou não. Qualquer conquista só a eles caberia, eles é que entenderiam. Nenhuma mágoa que ainda não consolidada e situada havia. Fez-se noite, o novo, esqueceu-se e por muitas outras vezes de outros ternos momentos amorosos se falou: rotulado "verdadeiro"; "esse sim interminável". E o universo transpirava e conspirava, cada vez convalescia. Um do outro, dia a dia, sempre sempre se sabiam.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Aquele plano para lhe esquecer

Que bom que chegaram as mercadorias, que bom mesmo. Uma pena é chegarem em meio a tantos outros pensamentos de dinheiro e coração turvos, quase num vendaval de novo, embora ainda haja limite disponível no cartão de crédito e minhas ações amorosas não, necessariamente, ou pelo menos sem maiores provas irrefutáveis, possam ser classificadas como trágicas, de novo. Bem nesse momento, enquanto escrevo, recebo uma mensagem naquela rede social que tanto amo e não consigo largar. "Está com o nome negativado?", pergunta, solícito, o globinho de alerta na tela. E meu coração segue na espera.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Talvez nada doa mais do que se perceber tão estúpido, vazio e sem graça quanto aquele que nos serve de exemplo disso. Amar nada mais é do que ter com quem dividir o pão de cada dia.
Às vezes é o contrário: às vezes é o coração quem diz não. E a cabeça força o pensar na busca de um frescor diferente para um melhor funcionamento dos dias. E a cabeça é a que mais judia.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A voz a fala a cala a marra o anjo torto fez miséria.
O dia D se arrependeu
e se esqueceu que ainda vem
que ainda tem a voz de um outro
a lhe calar todo pesar
a se imbuir em seu pensar.
Olhar!

domingo, 19 de agosto de 2012

Que nos restou


Mas e quando não são mais? E se puderem não mais ser? Se, então, mesmo estando, não mais estão há tanto tempo? E se a saudade vai de besta, vai fingida, dissimula, toma espaço da razão que se permite mesmo àqueles que se amam? E se falasse resolvesse? E se escrevesse o que se leu, pra se guardar, se preservar da enganação? Mas quem a sabe tanto assim para sabê-la enganação? E se a póstuma sorte de ser dois, sermos um, ser o que se está mais vivo alto falasse pro que pode ser depois? Tudo jogado, "palavras são traiçoeiras, me confundem, e eu nem as evito. Palavras são tudo o que temos agora."

*Trecho final roubado da introdução do livro "O rosto na xícara", de Ludmila Rodrigues.



Pensar

Um escritor deixou passar o seu pensar, e outra vez em escritor não se tornou. Pensou guardar para mais tarde, que dessa forma o caldo todo engrossaria e o mundo todo ganharia em tão genial pensar. Mais tarde teve outro pensar - esse escritor pensa demais - não se atentou pra grande fala de Millor: "(...) e que ninguém acredite que ficar imaginando que trabalha é um trabalho de imaginação." O escritor deixa passar o seu pensar.

domingo, 15 de julho de 2012

Nem póstumo, nem não


Não, não era nem de longe triste, tampouco desesperado, amuado, despedaçado que retornava daquela consulta reveladora naquela desditosa manhã ensolarada, a parecer caçoar do fim anunciado de maneira tão emocionantemente técnica pelo Doutor Euclides. Claro que não feliz também, mas Doutor Euclides poderia, num momento desses, ser para ele qualquer doutor alguém, algum, doutor sabe-se lá mais quem, como tudo, agora, poderia ser de todo nem mais importar quem ou que. Tudo agora poderia ser simplesmente o profundo pesar do que passou, do que nunca mais será, e tudo o que nunca foi poderia ser a frustração do que, agora, definitivamente, é certo de não ser, ser promessa destroçada pela fatalidade de uma impiedosa sentença de uma pedra tosca e direta e certeira no meio de um caminho tão promissor de um ainda tão jovem rapaz. Mas não era isso, não o é, ele teve certo pra si. E que bom que sempre teve certo pra si o gosto bom, ou não, de cada poema que a vida lhe vale, lhe participa, de cada letrinha do filme da vida subindo, e mesmo o gosto a não ter, não sentir, pelo simples fato do fim. O gosto pelo filme que acaba pelo simples saber de que acaba, nunca se enganara, sempre fez da lucidez seu maior trunfo e parceiro mesmo nos momentos aparentemente mais insanos, de todos os momentos presentes, estes os que ela mais se notou tão qual, lúcida. Fez prazer, se teve, atenção se deu, fez-se jovem, mais forte, renasceu. E viveu, como de hábito, cada momento como se fosse o último.

Ressoar

E vem aquela sensação de vazio que sucede todo grande encontro. Vem no peito esse incontingente silêncio pós-festa, de toques de vozes e mãos, chocar de risos a dar de frente à ressaca do quarto vazio tão grande e cheio de si, naquela certeza de cada ser humano você, à medida do cada vez mais certo por natureza só, cada vez mais gente carente é. Vem falar de agora, cruel, o próprio respirar no embalo das melodias de tão poucas horas atrás e já noite passada. E passado. Como tudo, toda gente e vazio e silêncio e barulho, que, no momento em que se dá, fadado a passado está.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A bola. Do chão, do ar, ao fundo.
Da alma do mundo.
De todo o mundo.
De todo mundo.

A bola do jogo.
Da vida.
Do jogo da vida.
Que é a vida.

A bola do jogo reflete, fala, retrata.
é vida que se escancara.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Para Wander Bêh

nem malandro nem mané
nem merda ou doce
fruta amarga por assim interessante
mundo abismo que a ti não interessa
jóia rara que a tudo então se presta
do divino maravilhoso
do pensar que nunca cessa
do saber que se valeu
e se valeu.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Chega a ser nojento de tão sem graça. Sorrisinho sereno - chamaria idiota - no canto dos lábios e um ar bem vazio, de tão resolvido. Que gosto há de ter em escolha tão fácil, tão nada e sem risco? Tão sem emoção olhar assim, assistir, nem legal de rever. Rever: talvez por aí, a chave. Já muito revisitado em matéria de questões grotescas, rock on the road, tombos na estrada, sangue de monte, pode se dar ao luxo - e quem não pode, querido? - do quieto, da fala consigo, silêncio e trabalho - assim, no termo mais usual mesmo da palavra trabalho - sono do bem dormir, banho revelador do gosto por vida de Maurício, da paz. Isso, da paz mesmo. E, incrível, sim, incrível!, que tesão lhe dá a vida também nesses dias. A abertura de possibilidades é algo simplesmente maravilhoso.


* Maurício me foi apresentado por Ludmila Rodrigues, em seu lindíssimo "O rosto na xícara".  http://ludmila-rodrigues.blogspot.com.br/search?q=o+rosto+na+x%C3%ADcara'

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Fez do céu mais cor, vida luz, doce lar. Converteu-se em força, fez religião. Uniu as mãos do tempo às suas, fez-se belo; a gente tudo inventa. E fotografou, pra guardar.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Aquela possibilidade de felicidade que só a tristeza dá

A criança passou por tanto, naquela última noite, quem dera, última noite assim, para chegar em casa e destilar, sobre o agora não mais branco, tanto quanto do veneno bom que tinha ali consigo, para respirar ar puro. Para respirar ar puro sobre o não mais branco.

Tensão.
Vômito.
Lembrança, sim.
Espera, luta.
Cansaço. Cheio, saco.

Esperança no ato de se olhar. Notar-se no mal estar em que se está. Proveito. Escolher outro caminho, verdes campos na cabecinha tonta. Na cabecinha tonta da criança.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Passos, gritinhos, choramingos, cantar!

Para Sarah Veríssimo de Matos

É um choro histérico, gritado, desesperado, mais que sofrido, até medo dá quando seu porquê não sabido. Em seguida é um sorriso, belo, mais que belo, olhos falantes, curiosos por um novo que, radar, arregalar, mundo abrir. Vem um caminhar, cambaleante que é, sempre encanta, nunca de sempre, sempre a indagar. São gritinhos de vida, a ecoar, toda luz que irradia a brilhar. Mais que rápido é uma sucessão de timbres e gestos e nomes e danças na dança do seu sibilar. É um dia a dia cantar.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Elas por elas

A fina flor, alma da mulher amada, ultrajada, subjugada, corroída, sentida. Da flor perfume, gosto bom aos olhos meus, é ver e sentir: querer. Sem válvula de escape que não o nem entrar, toda mulher é mais, o saber de si já lhe basta, é tudo para que o poder detenha. Não ouse. Aqui se faz, e, sim, sim, sim...

sábado, 5 de maio de 2012

De mim

São manias. De parar, de me dar. Parar de me dar. Exaurir, mesmo que ao perceber, começar e acabar. De ouvir, repartir, de guardar. Me guardar, não, e, gastar. Nem olhar: mania de me distrair, ou abstrair. Tanto, tanto. Mesmo uma, quando assim, mesmas tantas manias de mim. E ele fica: assim.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Simples assim

Para Nathalia Conti Galo

Aparentemente quieta, apaixonada constante. Olhar pra dentro, olhos atentos, silentes, falantes. Questionam, se indagam, vão longe. Suicida no gosto por vida, longe vai, linda vida. De repente, até mata por ela. Fria, calma, quente, inconstante, vai longe a menina. Gosto por vida, medo, absurdo enfrentamento de si, para si. Vai longe, de tanta vida, essa vida. Apaixonada que é, a menina. Fala alto, é presente, se faz, a menina. Mulher.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Entre luzes

Desfocar, redimensionar meu mundo lar. Chão suspenso. Cada um com sua forma de ser lido. Cada sapo, engolido. Meu mundo, uma mistura de luzes, me queima. "Café com pão", Tom diz ao fundo. Tambores, tremores da mente, do frio d'alma. Confusa gente carente, inocente, indecente. Meu eu usual, palavras de sempre. A vulgaridade natural do ser, nada a fazer. Café com pão, café com pão. Café com pão é muito bom.

domingo, 22 de abril de 2012

Das agonias e porquês da fala

Para Ana Clara Costa

Parir.
Lançar ao mundo, despir.
Perder de mim, te dar.
À luz, ao mundo.
Só meu, não mais. Não mais zelar. Bem meu, contar.
Fazer sangrar, fazer.
Por onde, pra que, falar.
Desavergonhar.
Confessar-me ao medo, me dar.
Conforto, risco, perder.
Andar, sentir, arder.
Viver, por mais de uma vez morrer.
É me perceber, vestir, ceder. É me conhecer.
A escrita. Sujar, limpar.

Vaziez

Um amontoado de coisas, emaranhado de cores, aglomerado de gentes, de eus, no meio de nada do nada, presente. São dores, vazios pesares, flores que temem nascer. Pelo próprio florir, medo de ser. Fantasmas do ainda nem vivo, nem inativo, sempre porvir, bruta espera. Da imaginação cansada, de ser febre delírio, ser nada. Se é nada.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Às mulheres, no seu dia, para todos os dias, tão seus...

Doces, amargas, intensas mulheres de tão doce mar que navego. Maravilhosas, profundas. Só superfície, ou não, teto e piso de tudo, meu chão. Que moram cá dentro, com e sem aviso, se fazem respeito demais na imensa força que são. Mulheres que cravam, certeiras, presenças marcantes, bonitas, doídas, em tão plena dor que cativa, encanta, que gosto de ter. Mulheres danosas, do frio na barriga, na nuca, espinha, do frio que aquece a alma. Mulheres que fazem da vida mais vida. Queridas mulheres da vida. Vida, com elas, querida.

domingo, 4 de março de 2012

Preço saudade

De, e para, Aline Sabbadini

Pesar de saudade, quando não provinda de um fim. Quando não desenlace, mas tida certa no inevitável que é. Quando havida pelo preço distância a pagar nessas horas tão longas, doídas, escolhidas por quem quer estar. Quando mesmo a vinda é sofrida, já que certa a volta em seguida. Já que, por hora, vinda ainda não volta. Quando, entre, e dentre, tudo, saudade é o que há.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Tapa

Não lavou o rosto após o último golpe. Sequer tocou, sequer a conferiu, a ferida. Recolheu-se ao íntimo encerrar daquilo. Apenas deixando escorrer suas tenras gotas de confuso pesar, se despediu. À deriva. Claro que nenhuma certeza, assim sempre. Seu andar na madrugada indistintamente calma, se foi. Bola dentro: nenhuma. Seu último fora naquele carnaval.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Meu carinho você

Existe um carinho de quem nem pouco se sabe. Existe uma flor no terreno inabitado. Existe uma fala que fala por nós, bem se ouve. Coexistem sorrisos guardados, o seu tão belamente desenhado em tranquilos desejosos lábios. Existe uma cor, e, nela assim, toda a suspeita do quão bom sabor. Um algo bom, um algo que é, simplesmente é, há. Existe o meu carinho você.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Colocou as lentes. Em seguida, colocou os óculos. Estranhou tudo embaçado, limpou os óculos. Se percebeu, disfarçou, guardou os óculos.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Deu medo de dormir. Veio aquela sensação de alguém no quintal de casa e acabei por ouvir meu coração, tamanho silêncio para perceber possível cochicho, andar, respirar alheio. O silêncio, tome coragem! Deu mais medo, fui pra sala. Que bom, então, que pude assistir ao final daquele filme tão lindo, que, uns dias atrás, havia perdido o sinal bem na última parte. Agora muto a TV para escrever. Mamãe ronca ao fundo de meus pequenos confortantes dizeres para o papel. Sem nada dizer a gente diz muito, nem exatamente preciso, nem sobre algo, nem de nada é. Uma música, uma voz bonita, um silêncio, assim, agora, aconchegante. Um deslizar de tinta sobre folha, e são cores. Um tocar de ares.

sábado, 28 de janeiro de 2012


A vida é risco. Para senti-la em nós, na sua mais clara e alta definição: vida. Está no frio do medo que se sente antes, e no calor daquela coisa toda, durante. Está na voz do instante, no titubear. Está no riso anseio, calar. A vida é mudança. E por mais que se morra ao mudar, a morte, sem vida, não há. E por mais que se sinta esvair, não é uma só em nós. Vida querer, buscar, pensar. Vida experimentar. A vida ser vida em nós, vencer. Viver jogar, perder, pagar. É vida com vida pagar.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Olhar pra dentro


Já que a própria masturbação necessita tanto da verdade para acontecer, como e por que nos privarmos dela? A verdade está na nossa cara, em nossa face d'alma. Somos, a todo instante, nosso próprio espelho. E tentar calar, lá dentro, só faz doer mais. Uma vergonha muda nessa dor intermitente, mas interminável, inapelavelmente gritante em nosso peito. Façamo-nos rir, ao menos.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Um homem reflete, parado.
Sentado em frente a seu lar de frente pro rio.
Riozinho, córrego.
A água corre, corre também a vida.
A minha de frente pra dele. Corre adiante, corre depois, é caminhar.
Eu penso na vida, reflito, parado.
A gente governa essa vida, a vida navega.
Água bem viva, bem viva. A mesma água, a vida.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"Curtir"

O poder de um simples "curtir". O poder de um simples "curtir" pra mim. O poder de um simples "curtir". Ele me faz mirabolar em mil rodeios e conjecturações fantásticas, todos de uma volúpia sem fim sobre esse indefeso e reles eu. Isso porque ele "curtiu". Ele pode me amar, pode me gostar, pode não, pode se sentir bem com o que aqui faço, ou que, às vezes, faço. Ele pode ser meu guardião, ou fiel espião. Ele pode, talvez, conter asco de mim, nojo mesmo, ser louco para me desfazer e necessitar abrir caminho a me percorrer. Quem sabe se não é muito curioso, mas também muito provável um total desinteresse por tudo e, assim, tudo "curtir". E o poder do meu "curtir"? A responsabilidade e importância de um "curtir" pra mim, para mais mil conjecturações. O meu "curtir" porque o amo, meu "curtir" de "sei lá, parei pra ver e fez minha trilha sonora do instante.", "me instigou ou aluiu vida, se gostei não sei, algo fez." O meu "curtir" da pestana, do cenho franzido, incisivo. O meu "curtir" por tesão, de novo curiosidade, o meu "curtir" por paixão. O meu "curtir" tanto faz, nem te importa. O meu seu "curtir", o seu meu "curtir" já deixa uma página, uma hora, uma vida. Só não deixa resposta.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A chuva rompe os laços do silêncio, fala a calma em nós, me transparece em sereno e desmedido espaço agora. Não tenho pressa, não falta tempo nesse generoso descanso improvisado do pensar; inertes minutos molhados da noite calma.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Toada

As alternâncias do ser, essa gangorra da vida. Esse não resolver-se, esse bem, esse mau viver. Esse cansaço, essa tanta fé, esse deixar-se estar. Esse querer e não querer tudo dizer, tudo encarar. Essa vontade de tudo, e de tudo escapar. Nessa ressonância e dissonância d'alma, necessidade de alguém, nesse todo desgaste a nos testar, no amor infinito desse filme sem fim. Nosso filme, nosso livro dos dias. Nossos dias nessas horas tristes, alegres, infindas. Todas as vidas do mundo em nós, e sermos todas, e sermos única, e sermos nós. Todas as vidas do mundo em mim. Toda crença, toda dor, todo medo, toda saudade. Toda toda toda vontade.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Corriqueiro

Você já teve a impressão de estar voltando muito cedo pra casa, mesmo sabendo que ia tarde? Já se achou idiota demais? Inocente demais? Bestial demais?


Você já se encontrou deslocado? Não se encontrou? Achou-se fora de mão, ou sem referência?
Já se xingou? Já se bateu, de tanto, assim, que se amou?
Já se judiou? Já se perdoou? Recomeçou?

Você já achou muito pouco pra ti? Achou muito injusto?
Você já se enojou? Já se envergonhou?
Você já se matou e notou o quão inútil era...
...pro seu jogo, seu tempo, seu saco tão cheio?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ele não quer saber de tratamento

Um gole de conhaque do copo mais profundo.
Um gole interminável, porre descomunal.
Cem tiros de canhão, eterno gozo, amor eterno.
A falta de tua língua, abstinência tão cruel.

Fizeram dessa vida um maior erro, um erro sacro.
Tão bom de se saber, sentir, beber, cheirar, viver.
Um pênis em meus lábios, palavra em meu ouvido.
Vagina sedutora, apaixonante, insensível.

Um gole de desprezo, trejeito que me espanta.
Trejeito que me chama, temor em me encarar.
Fazendo outra visita desesperadamente.
Entrando em outro transe de amor perdidamente.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Escolha

Escolhe seus amigos, escolhe os desafetos.
Escolhe a alegria, o triste, o longe, o perto.
Escolhe com quem fica, escolhe a solidão.
Escolhe o todo ébrio, escolhe o todo são.
Pode ser legalzinho ou ser insuportável,
pode ser todo certo, ser um desvirtuado.
Escolhe não se achar, crise existencial.
Escolhe ser estranho, ser do avesso, ser normal.

Escolhe de que jeito rejeita suas chances.
Escolhe em quem se inspira, de quem fica distante.
Também da sua escolha, em consequência, todo frio:
barriga, espinha, peito; escolhe seu covil.

Escolhe ter escolha, escolhe estar perdido.
Escolhe o todo fácil, escolhe todo o risco.
Escolhe toda dor, escolhe toda cisma.
Escolhe o que começa, e o que não termina.
Escolhe o equilíbrio, o ser mais tresloucado.
Os pés no chão, o vício,
o vão apaixonado.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
e vai continuar, tem que continuar.
O não mais aguentar, não vai mais aguentar,
...
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Repousa

Descansa os olhos no parapeito da alma. N'algum cantinho que ali deve haver, não mais no meio desse redemoinho todo. Descansa, respira, sente um pouco mais corpo. Aí já deu, corpo não mais. Deixa o pensar, se solta. Repousa a criança inquieta.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Papo jurídico

Muitas vezes visualiza encontros, cores, cenas de uma comédia romântica que julga ser um pecado não ocorrerem de fato, para poder dizer que só escreve sobre fatos reais:

"- Eita, acabei de pensar em você, não morre mais" - e tudo o mais da espécie, se dirigindo à terceira parte, não interessada e necessária à conversa que só aos dois pertence. - "Você não vale, em você eu penso todo dia." - dirigindo-se a ela."

É... na verdade, é dessas que só seria engraçado na hora, ou nem.

Minha música da manhã, minha musa sóbria, meu singelo florir, meu sol. Oh, eterna canção, perdoa a aflição fingida dos desavisados que te cansam a bela face. Perdoa a feliz poesia.

"A doida vai arrebatando olhares cheios de pavor da possibilidade tão comum da demência."

(Fim)

"A doida vai arrebatando olhares cheios de pavor da possibilidade tão comum da demência."- Trecho final de "Pérfida lucidez", de Elisabete Amorim.

Era pra te tirar de mim

Era para sair de você que iniciei aquele novo plano de outros mares e desejos e loucuras, e outros costumes e quereres e afins. Era pra te sair da mente trilhar outros caminhos de casa, trabalhos, redes, dizeres, pesares. Era pra te tirar de mim sorver outros ares, e não dar a mínima para esses espectros lancinantes e gente ignorante infame a me devorar; mortos de fome e de sede de caos. Era pra me tirar de ti, era pra te tirar de mim. Não era?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Falam-se sem falar, se entendem, causam. Mãe, filho, e as respectivas portas trancadas; irmãos mais que amigos; ex e ex recentes, ainda irmãos de pele, sucintos, suscetíveis às lágrimas facilmente provocadas. Falam-se sem falar, poupam as palavras; claro que não se poupam, sabem não ser possível. É preciso ser forte, todos sabem.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Feliz Ano Novo!!!

Vive pra luz, vive a luz que é. Vive de novo, renovado, o ainda não por inteiro, se resolve. Vive o novo também, não fecha o terno abraço. A gente é vivo e se faz. A gente é grande, gente é pra sempre. Gente gigante pra se descobrir na calma e na pressa, tais quais sejam nessa precipitação tão "de lua" das horas, hora tão leves e mornas, hora gélidas, sem conversa total. Nessa calma e nessa pressa, o desvendarmo-nos nelas. Carinho, trabalho, força e fé demais. Um feliz ano novo à todos.