Havia quatro garrafas de conhaque vazias debaixo do banco em frente ao bar fechado. Lindos olhos e curiosos olhares de crianças pobres dentro do ônibus a me levar. Faço de novo o único caminho que sei. Ao levantar-me, piso no pé do passageiro de trás. Não responde ao meu pedido de desculpas, responderia, talvez, a um xingamento. Eu mesmo, muitas vezes, nem a isto respondo. Abro o portão. Minha mãe foge com o cigarro nas mãos. Minha casa fede a cigarro e música chata e velha de novela repetida. No entanto, não sou um roqueiro a lhe ensinar o que é música boa, não tenho essa pretensão, talvez não a tive nem mesmo quando achei que tinha. A vida é bela, meu irmão. Vamos encher as garrafas.
E que quando eu não puder mais escrever, ver e ler de novo a vida, guarda ainda em mim, ó, Deus, tudo que de vida vivi. Para que, assim, todo vivo, poesia viva eu siga.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
terça-feira, 25 de junho de 2013
No tempo do clic do som (ou Nossa música)
Tudo é música. O
tempo do clic do mouse o tempo da tecla o tempo que espera e respira
e espera de novo a resposta que vem a resposta que falta que sobra
digita e não mandas. Tudo na mente e no gesto da gente está e soa e
canta e fala a música. Somos insaciavelmente musicais. Chega a doer
os ouvidos. E a gente não cansa. Um, dois... um, dois, três, vai!!!
Sensação
Sensações, a vida que é feita de sensações. Parece que sempre algo falta, ou, quando nas raras vezes em que assim não ocorre, somos surpreendidos pelo frio na barriga vindo do medo do fim. Mais ou menos aquela mesma sensação que nos toma de assalto quando fazemos as contas do mês e sobra grana. Sobra grana e certeza de que esquecemos de alguma delicadeza nada delicada somar. Também assim na vida: acostumamo-nos a subtrair. Subtrai-se amor do amor da mulher amada. Subtrai-se nosso poder de entrega. Subtrai-se a confiança para sermos o que somos. Subtrai-se a segurança em passos pelo terreno desconhecido, a mesma segurança pela atração despertada. Meu medo maior, hoje, ao traçar estas linhas, é de que seja tarde demais. Mas isso é como tantas vezes outras. Talvez, mais que isso, um medo do próximo medo e dos anos que decorrem imparciais. Ao mesmo tempo se sabe de um jeito já todo particular que, eternizado, por si só, nos deve servir de orgulho. Ainda assim esse medo. Sensações, a vida que é feita de sensações.
Hoje
E nem te chamo mais por nosso nome.
Nem mais sozinho aqui comigo.
E olha que não se faz nem poucos dez anos
que, passados,
nos deixaram
este cheiro, este gosto, esta cor, esta lembrança
de nada
que é tudo.
Nem mais sozinho aqui comigo.
E olha que não se faz nem poucos dez anos
que, passados,
nos deixaram
este cheiro, este gosto, esta cor, esta lembrança
de nada
que é tudo.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Alento
Em francês, cantou em
francês pra mim.
Nunca me havia cantado.
Talvez, quem sabe, nem
só, não sei...
Mas naquela noite, uma
noite cinzenta
do inverno europeu,
ela cantou em francês
pra mim.
E afirmou, entre
sorrisos e desprazeres clássicos das canções,
que não, não se
arrependia de nada.
Samba, morena
Samba na pele, samba no
pé.
Samba em meu peito seu
samba, morena.
Samba a dor que retumba, o jeito, morena, que induz.
Samba o sentido que diz
que, longe de mim, ó, morena,
um samba de toda dor
que é o samba,
morena, seu samba
traduz.
terça-feira, 18 de junho de 2013
Da água pro vinho
Cruzou com Caetano Veloso às cinco da matina na Avenida Paulista
Jogou dados, cartas, búzios, foi ao terapeuta
Cruzou os braços pra pensar
Parou, olhou
Parei, olhei
Bebeu
Cantou
Dançou
Comeu, comemos nós
Do bom e do melhor
Rua Augusta, sirene de polícia, sexo, revolução
Deus e o Diabo
Clamou, clamei
Marvin Gaye, Cazuza, Bukowski não sou eu
Alegria sonora, estridente
Alegria alegria
Intertextualizou a própria obra
Um mantra do mantra do mantra
Choro preso vendo Gal
Porque as coisas nunca são as mesmas
Não, não são iguais
As coisas podem até se repetir
Mas não, as coisas nunca são iguais
Choro preso
Não chorou, não chorei
Nem lá, nem cá
No que se faz por onde?
E segue.
Jogou dados, cartas, búzios, foi ao terapeuta
Cruzou os braços pra pensar
Parou, olhou
Parei, olhei
Bebeu
Cantou
Dançou
Comeu, comemos nós
Do bom e do melhor
Rua Augusta, sirene de polícia, sexo, revolução
Deus e o Diabo
Clamou, clamei
Marvin Gaye, Cazuza, Bukowski não sou eu
Alegria sonora, estridente
Alegria alegria
Intertextualizou a própria obra
Um mantra do mantra do mantra
Choro preso vendo Gal
Porque as coisas nunca são as mesmas
Não, não são iguais
As coisas podem até se repetir
Mas não, as coisas nunca são iguais
Choro preso
Não chorou, não chorei
Nem lá, nem cá
No que se faz por onde?
E segue.
sábado, 8 de junho de 2013
Todas as cartas de amor são ridículas
É um moço regrado, medido, os passos que a cada dia mais e mais se firmam indicam seu bom caminhar, toda segurança, noção e um alto poder de concentração, despertar. Dá gosto de ver!
São boas notas, semestre quase fechado, férias do trampo e, então, todo o tempo, quase todo o espaço e muito boa cabeça pra inda melhor entreter-se, ainda mais despertar. É sempre mais trabalhar!
Um sábado à tarde. Depois da aula um café. Encontra amigos, conversa de coisas, percalços da vida, tudo estruturado: um moço todo articulado. Vai pagar a conta, passar na escola de som, pegar de volta a viola e a tudo de mais produtivo se dar.
Quando, tipo, lá fora ela passa, parece que tudo se vai, se escoa, se esquece. Nem rosto deu tempo de ver, foi bem, assim, já foi. Cabelo vermelho, andar de moleca, boneca, tão ela que desestrutura e tudo se perde, tudo se insegura, os passos em si titubeiam, vem frio na barriga, desconcentração. Já era, já era, já era.
Perdeu, meu irmão!
São boas notas, semestre quase fechado, férias do trampo e, então, todo o tempo, quase todo o espaço e muito boa cabeça pra inda melhor entreter-se, ainda mais despertar. É sempre mais trabalhar!
Um sábado à tarde. Depois da aula um café. Encontra amigos, conversa de coisas, percalços da vida, tudo estruturado: um moço todo articulado. Vai pagar a conta, passar na escola de som, pegar de volta a viola e a tudo de mais produtivo se dar.
Quando, tipo, lá fora ela passa, parece que tudo se vai, se escoa, se esquece. Nem rosto deu tempo de ver, foi bem, assim, já foi. Cabelo vermelho, andar de moleca, boneca, tão ela que desestrutura e tudo se perde, tudo se insegura, os passos em si titubeiam, vem frio na barriga, desconcentração. Já era, já era, já era.
Perdeu, meu irmão!
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