terça-feira, 4 de março de 2014

Instante-luz, um flashback

não mais me espreito, espraio
sou própria onda, o vasto
um timbre grave, suave, a proclamar-se
piano doce, pulsar tão doce, alento doce
(como um ácido flutuante ante minhas vestes de mundo
e corpo)
há sempre aquele que se despe
e, ao longo tempo das vidas,
todos serão quem sempre são

não mais me espreito, espraio
um doce remir, a melodia, instante
(mas que pulsar tão doce!)
o doce na vitrola, a vida
(praticamente um pesar que se verá, por tão feliz no agora)
e há de ser feliz, daquela felicidade tão doce,
mas tão doce, tão doce, a vida
que já esquecida, renovada
a luz dos dias

lembrança nunca exata
tamanho o perigo do olhar da face, a face
retratada
(como um quarto de um doce à época errada)
a necessidade da imprecisão, volume
memórias...
olhar da face
e a face no olhar
tão doce

mas não tão sempre assim errado
há quem seja o mais correto e careça se cuidar
são normas, o mundo
não mais me espreito, espraio
à luz de mim
minhas próprias ondas
regurgitar

sensual, canta-me ao ouvido
sem definição a voz tão doce, ó, Deus!
libido
algo assim tão doce
assim doce, assim tão doce, doce
um fim de noite
em meio ao nada
e sou, somos

proponho um brinde, amor
uma taça de champanhe
e é a vida, a vida
por entre fatos e reclames, um convite
quando não entorpecida
um doce, um doce
assim tão doce
qual poema não havido, vive
palavra dada ao mesmo nada, palavra nada, o nada
e o poema, aquele
enfurecido por tamanho inexistir
mas assaz calmo, leve, um peso nada, nada, a achar graça
assim o lúdico, mas nem mais graça, então, agora
o único no mundo ousando a paz
o doce...

ausentes amores, meu coração
um doce olhar tão doce
um doce olhar
em mim
me diz
um doce olhar
em mim.

Café VI - na praça

na praça
está a tarde
na praça
sou nesse instante
na praça
crianças brincam
balanços
a balançar...

na praça
não me confundo
na praça
eu me espraio
na praça
o estribilho
descansa
do carnaval

na praça
fumo um cigarro
na praça
não tem problema
na praça
distante as rimas
se espalham
não mais a sós

na praça
poucas palavras
na praça
um sem suspiros
na praça
Seo Dito chega
reclama
é o numerário

na praça
problemas deitam
na praça
desvãos se vão
na praça
estrelas chegam
a luz
a traduzir

na praça
faço um poema
na praça
outro cigarro
na praça
a poesia
os ares
a se abraçar

domingo, 2 de março de 2014

Nova obra poética - Tão qual tristeza - Condolências - Indiferença

pelas ruas, a tristeza
nos semblantes, nas ausências
pelos bares, nas igrejas
nas servis e esparsas condolências
pelas ruas, a tristeza

refrões, aliterações
dos carinhos da tristeza
inicio minha nova obra poética
com ajuda
da tristeza
alheia:

a tristeza pelas ruas
livre, leve e solta
solta seu aroma
inebria
perfuma de cerveja o vapor do homem a andar nu de seta
e perdição
bafora na cara do hoje
notada falta de qualquer espera
busca o esquecimento
de quem nem se soube
o tempo qualquer perdido
nessa falta de amanhã no hoje
um constante suicídio
essa causa da tristeza

a tristeza congelada no olhar daquele a cruzar ruas
atento aos sinais
desprovido de quereres, instintos
distraído ante a própria vida
a própria obra
poética

à margem dos próprios passos
conduzido que é
pela tristeza
não se vê
não olha ao lado
um repouso
no colo feliz tão qual cansado
da tristeza.

são refrões, aliterações, percalços descalçados, condoídos
infelizes, indecisos
reais tão qual sentidos
é uma dor física, clara, por dentro e fora, bela e podre
por dentro e fora
a tristeza.