quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Um bom ator não engana a si mesmo (Lei dos contrários)

Pra que sair
Se lá fora o mundo é o mesmo
Pra que buscar
Se o resultado está escrito
Ou escrever
Se as possibilidades nunca além de duas são
Nunca além dali estão.
Por que voltar
Se o céu de casa é o mesmo
E lá tão encoberto aguarda-me
Pra que as horas
Se aqui toda a cerveja está
Donde é que estás Maria?
Donde é que vim?
Pra que querer saber
Por que não vou querer
Pra que pensar
E como não pensar
Tantas perguntas
Um verdadeiro show da Luna.

Suprimam-se as interrogações

Qual recomendação
Que valha
Quando tudo é uma pergunta.
Resuma-se. Esqueça-se.

As crianças,  as mulheres, as mães,  as leis, o âmago que tudo sabe e nada conta
Os jogos, a poesia abstrata demais
Que não me deixa em paz.
A querência de paz e amor
É mal fingida
Atriz xinfrin de filme pobre
Sozinha
Às portas da rede globo
Tentando a cena em que já sabe-se

Inserida: atuante. Passiva.
É pobre
Mas não sabe que é pobre
A alma.
A dela?
Não, a minha
Que pensa estar nalgum lugar
Pra perguntar de onde veio

Problema há em se importar?
Não há.
E em não se importar?
Não há, pois que não se importa.
Por que olhar, então,  para os dois lados
ao atravessar
Se a via é de mão única

Basta que olhe apenas pra donde não vêm as carruagens
Mas que importa?
A verdade, outrossim, é que todos, sim, se importam
Não ignore,  apenas.
(Queira saber.)
O poeta que diz sou nada, não posso querer ser nada
Diz também ter em si
Todos os sonhos do mundo.
À parte isso, sempre acompanhado está
E nunca nos livrará de si.
Diz a palavra nunca
Nunca poder ser dita
A explanação vai de encontro à própria face.
É intraduzível,  inaudita, impossível
ser revista.
É impossível, a explanação

querer ser algo
Visto que seja
Mas ninguém saiba.
Tantas perguntas
Verde por fora, vermelha por dentro.

Passou em frente a mim uma moça gritando
De tão magra
Gritava, de tão magra.
Só não gritava pois que escassas encontravam-se
Todas as forças
(De tão magra)
Chegou a memória dela em meio a meu café
Que agora esfria
Conquanto eu tenha culpas também
Por ela, assim, tão magra
Não posso deixar de alimentar-me
Sou outra pobre alma, enfim.
(Solitário o poeta não está no mundo
O poeta, aquele.)

Mas foi uma imagem qualquer coisa poesia,  aquela
Um filme de Stanley Kubrick
Uma cena que não sei
Talvez de um outro
Que importa,  aliás?
Visto que todos amam-se
E também não
E todos olham para os dois lados
Antes de atravessar
Às vezes até se esquecem
Ou mudam de opinião
Deixando estar.
Aberto, o sinal de trânsito
Só,  fica e permanece

Tranquilo ainda que desperto
E curioso
Olhando o homem, sempre menino
A mudar de opinião
(A direção)
Todos podem, e devem
Mudar de opinião
Mudam gostos, morrem, renascem e nascem paixões
E todos devem ceder
Nem todos cedem.
Assim é que o nosso mundo
Embora ainda se creia
Fadado está a se extinguir
Mas quem se importa?


Ficarei aqui, mofando
Até o momento em que não creia mais
E então menos motivos inda
Terei pra ir.
Mas quem se importa?
Retiro-me.

Pronto fim azul

A prostração do existir
Insolucionável
Nada é nada
Qualquer ato é falho
Estagnar leva à morte
Crer é fingir vida
Insolucionável questão
Indagar é admitir
Calar, entrega
A entrega leva à morte
Do coração
O coração, desde onde nasce,
Parado está
Já não suporta
Tamanha aniquilação
Que é a busca, no existir,
De algum sentido
E decreta:
Qualquer e toda vida já nasce pronta
E morta.

O resto é poesia.