Nervo
ciático, a noite escuta
Sede
que fala, a noite escuta
Noite
que berra, a noite escuta
Lua
que ouve no viracopos
Noite
que escuta, noite que canta
Coloriu
prazer etéreo
Amnésia
Um
anjo passou longe, a noite trouxe
Servia
mais uma dose...
Cheguei
ao lado pra ouvir,
a
noite escuta
Ganindo,
o cão avisa:
Tudo
é sexo, é excesso
A
noite conta que sou um ser indefinido
Mas
ouço, a pena é que não lembro o que ouço
E
a noite não volta contar
Quando
volta, na outra noite
Estou
ébrio outra vez
Late,
late o cachorro
Sussurra
o cão entre dentes
A
noite sempre escuta!
Dor
moral, tudo repetido é repetitório
Você
entende a poesia
E
a poesia não é feita pra entender
No
endereço errado encontro a noite
E
a noite não conta mentiras
Mas
nada fala também
A
noite apenas
Escuta
E
atende
Quem
chama sou eu, admito.
Mas
a noite ouve tão bem...
Oh,
Noite, abraço-te outra vez
Cruel
e linda Noite
Incrível
como nunca te escondes
E
nunca te presto devida atenção
O
endereço é sempre o mesmo
E
eu, todo incerto.
Descubro-me
a mim, logo eu
Um
indivíduo cheio de certezas
(Sim,
certezas.)
Tapo
os ouvidos para o que o padre diz
E
ouço novamente
O
Anjo Servo de Deus
Ele
a indicar caminho está
Escrevendo
sempre reto por linhas tortas
Mas
como cansa, Meu Senhor...
Sou
certeza em pensamentos
Ainda
que não os entenda
Ainda
que eles sejam um tanto quanto poesia também
E
ainda que eles sejam um tanto quanto poesia também
Também
os ouve, a noite
Noite
escuta, noite escuta
A
noite fala, a noite não fala
Canta
bastantes vezes
Canta
bastante, a noite
Noite
noite noite noite!
E
essa gorda a meu lado não para de comer
O
cheiro, pra mim, é pior do que o cheiro de merda
Merda
doce
Mastiga
sem parar
Procura
com a mão enquanto mastiga
Mais
doce no saquinho
Mastiga
merda
Merda
De
cavalo
Este
pode estar sendo o último cigarro
Vai
morrer
Ou
parar de acreditar no Anjo Servo do Senhor
Mas
ainda há noite
E
enquanto houver noite
Tem
sentimentos...
E
ama.