quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Diligências

Por onde vi que não berra teu sangue
Assim escapa a culpa do patrão
E faz do jogo a cinza que não jogas
No mar do morto as contas a pagar
Quem faz meu teu suplício que não negas?
Nem nunca vais negar, não vais negar.
És tolo esperto o jogo do culpado
É sempre a culpa o jogo a se jogar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Meu amor

Só penso em cerveja
Faróis que brilham, luz amarela
Isopor, camisinha, conserva
Mas era apenas um cone ao lado do homem descansando junto à obra em construção
Abstêmio ou não:
Paixão, vício, virtude
Razão.

Escrita

A pincelar nas paredes do bar
as obras do dia a dia
cerveja noite frio ressaca
sombras na alma da gente
ninguém viveria apenas de luz
e mais uma vez a sorte os sóis e nóis
dependendo apenas da sorte
dependendo apenas dos sóis
dependendo apenas de nóis.

Desalinho

Penso: desisto...
Já fiz!
Desafinei o contracanto que não era
Vez outra
Ao menos hoje não, não hoje, hoje não era...
Olho: insisto!
Vazio dentro do peito a judiar
Cansaço e pleno cores
Maior vontade a virtude descansa em mim
Dúbias e significantes
Fugazes como sempre o sempre a deslocar-se e se entregar
Vontades...
Por onde anda assim quebra teu gelo
E não desista de nós, meu canto.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Do instante outro

Que aquela outra canção combinou de novo
A mesma música de sempre serviu também
A tudo o que não somos
Ao tempo que queremos
Do qual distanciamos
Quereres meus
Mordazes, sagazes, úteis
Quereres teus
Que aquele amor saiu de casa a passear
Buscar vidas outras
Noutras vidas
Que não minhas
Sagazes, cruas, mais mordazes
Essenciais
À vida tua
Que a outra canção far-se-á mais bela
À farsa de todo dia
Que o nosso amor cantou vez outra
Outra vez mesma canção
De nós dentro
Do coração

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Me sinto dentro, faço parte
Esculachado um esculacho
De dentro em órbita um palhaço
Cantando em mim cada alçapão
Dança escorregadia
Caco de vidro ali no chão
Vem mais uma e outra orgia
Sacra, pura, dita santa
Rude e sacramental
Um epílogo que não finda
Um também meu ponto final.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

De flores, cacos, ossos e rojões (para um ano novo não situado no tempo)

Apagam-se outra vez as velhas luminárias
Fecham-se mesmas cortinas
Junto ao fim um novo meio
Descobrir de velhos seres escondidos
Um novo início
De nós

Pelo andar do tempo o velho se faz jovem
Sempre jovem o querer...
Isenta-se outra vez nossa loucura
Consubstanciada e esquecida
Ao florir de espumas e sorrisos
Reinventam-se canções

Substanciosa, antes talhada e seca face
A esperança que não morre
Outros novos velhos passos e percalços
Ditam rumos pro que somos
Cada um que descalçado, calejado, amante, amado e desalmado
Luzem noites

Cheio de desejos e incertezas
Todo exposto às tragédias e belezas
Nosso eu
À mercê de todo novo ano novo a nos salvar
De nós

E que prossigam os rojões
A beleza e o latido dos cães
Nosso cantar cortante e profundo
Na vicissitude, agonia
E convalescença
Dos séculos.