terça-feira, 30 de abril de 2013

Para cada medida sua dose de sangue sujo


Nada é sujo. Pois que, ao contrário
tudo é.
E não me venhas dizer que para tudo
se deva particular olhar: eu também acho.
Mas não me digas que se deva, em cada coisa
achar sua medida: eu não discordo.
E necessito, como tu, de cada uma.
Pois que então, irmão, cada medida é parte desse todo.
Tão falsa, tão porca

e limpa.

sábado, 27 de abril de 2013

Riqueza


riqueza descobre-se. e se desdobra
transforma-se.
riqueza reflete, e fala, berra
resiste.
riqueza se entrega, permite
já que em nenhum outro canto qualquer
qual forma, que escolhida 
ou não,
se possa outra fazer.
riqueza que és, me existe.

sábado, 20 de abril de 2013

Madrugada na gente

Ainda é madrugada. Baixinho zumbido faz-se ouvir em meu quarto, 
em meu eu no meu peito.
Em meu âmago algo de meu me contempla,
um zumbido baixinho, ainda de madrugada.

Ainda é madrugada,
o frio grita à janela e o frio de meu peito em meu eu de meu âmago muito reclama.
Quer dizer que não, também diz que sim.
Ainda é madrugada, e um zumbido me chama.

Aquela poltrona ainda não está vazia, me sento.
Ainda há o cheiro, o rastro que não pôde o tempo seu passo fazer esquecer.
Bons dias recebem-me querendo se dar, uns mais, outros menos, 
uns outros ainda nem isso.

Ainda é madrugada; tudo é pele, é osso, 
são olhos murchos e incerta direção;
mas tudo é.
Já já amanhece.