Não, não era nem de longe triste, tampouco desesperado, amuado, despedaçado que
retornava daquela consulta reveladora naquela desditosa manhã
ensolarada, a parecer caçoar do fim anunciado de maneira tão
emocionantemente técnica pelo Doutor Euclides. Claro que não feliz
também, mas Doutor Euclides poderia, num momento desses, ser para
ele qualquer doutor alguém, algum, doutor sabe-se lá mais quem,
como tudo, agora, poderia ser de todo nem mais importar quem ou
que. Tudo agora poderia ser simplesmente o profundo pesar do que passou, do que nunca
mais será, e tudo o que nunca foi poderia ser a frustração do que, agora,
definitivamente, é certo de não ser, ser promessa destroçada pela
fatalidade de uma impiedosa sentença de uma pedra tosca e direta e
certeira no meio de um caminho tão promissor de um ainda tão jovem
rapaz. Mas não era isso, não o é, ele teve certo pra si. E que
bom que sempre teve certo pra si o gosto bom, ou não, de cada poema
que a vida lhe vale, lhe participa, de cada letrinha do filme da
vida subindo, e mesmo o gosto a não ter, não sentir, pelo simples fato do fim. O gosto pelo filme que acaba pelo simples saber de que acaba,
nunca se enganara, sempre fez da lucidez seu maior trunfo e parceiro
mesmo nos momentos aparentemente mais insanos, de todos os momentos
presentes, estes os que ela mais se notou tão qual, lúcida. Fez prazer, se teve, atenção se deu, fez-se jovem, mais
forte, renasceu. E viveu, como de hábito, cada momento como se fosse o último.
E que quando eu não puder mais escrever, ver e ler de novo a vida, guarda ainda em mim, ó, Deus, tudo que de vida vivi. Para que, assim, todo vivo, poesia viva eu siga.
domingo, 15 de julho de 2012
Ressoar
E vem aquela sensação de vazio que sucede todo grande encontro. Vem no peito esse incontingente silêncio pós-festa, de toques de vozes e mãos, chocar de risos a dar de frente à ressaca do quarto vazio tão grande e cheio de si, naquela certeza de cada ser humano você, à medida do cada vez mais certo por natureza só, cada vez mais gente carente é. Vem falar de agora, cruel, o próprio respirar no embalo das melodias de tão poucas horas atrás e já noite passada. E passado. Como tudo, toda gente e vazio e silêncio e barulho, que, no momento em que se dá, fadado a passado está.
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