domingo, 19 de agosto de 2012

Que nos restou


Mas e quando não são mais? E se puderem não mais ser? Se, então, mesmo estando, não mais estão há tanto tempo? E se a saudade vai de besta, vai fingida, dissimula, toma espaço da razão que se permite mesmo àqueles que se amam? E se falasse resolvesse? E se escrevesse o que se leu, pra se guardar, se preservar da enganação? Mas quem a sabe tanto assim para sabê-la enganação? E se a póstuma sorte de ser dois, sermos um, ser o que se está mais vivo alto falasse pro que pode ser depois? Tudo jogado, "palavras são traiçoeiras, me confundem, e eu nem as evito. Palavras são tudo o que temos agora."

*Trecho final roubado da introdução do livro "O rosto na xícara", de Ludmila Rodrigues.



Pensar

Um escritor deixou passar o seu pensar, e outra vez em escritor não se tornou. Pensou guardar para mais tarde, que dessa forma o caldo todo engrossaria e o mundo todo ganharia em tão genial pensar. Mais tarde teve outro pensar - esse escritor pensa demais - não se atentou pra grande fala de Millor: "(...) e que ninguém acredite que ficar imaginando que trabalha é um trabalho de imaginação." O escritor deixa passar o seu pensar.