sábado, 20 de julho de 2013

Meu Caro

É porque a vida não é fácil, meu filho.
Se quer saber, procure saber
por onde andou nas últimas três noites
durante os últimos quatro meses
em sua terra natal.
Também no centro velho
das outras por onde passou.
Pergunte por você nas últimas noites:
o que fez, quem beijou, onde mijou
e o quanto
mijou-se.
À conta da álgebra do quíntuplo múltiplo
acrescente seis vidas:
sua mãe, seu irmão, sua filha, a puta escondida,
você e o laranja
(aquele bêbado cujos trabalhos você se utiliza
para ser superior.
Mais forte.
Doutor.
Sabido.
IN-CÓ-LU-ME.
Perfeito.)

Perceberá possível
não ser
qualquer matéria
de risco,
sorte,
chute.
Calcular-se, então, talvez,
onde está e
resolver-se com certeza
pra onde ir
será não impossível,
será
tão
patético
quanto aquilo do que fugimos,
através dos dois lados que julgamos os únicos,
todos os dias.

E o quanto dos sonhos
não serão seus,
nem de outros,
mas te habitarão.
E entre dormir
e ficar em claro,
estará no meio do sono
tendo as conversas mais absurdas,
de tão esperadas,
com atrizes de novelas
lhe parecendo familiares
preocupados
com sua
hemorroida,
com seu
refluxo,
com sua
homossexualidade
indefinida.
Ou simplesmente lhe parecendo
sua mãe.

Num quarto ou num banheiro escuro,
trave aquele papo mais franco possível
consigo mesmo
e perceberá
franqueza não haver no mundo
sobre suas mentiras, verdades e
não-verdades
(aquelas que não chama
nem mentira nem verdade, aquelas que nome
não dá.)

Estamos aprendendo.
Simplesmente
aprendendo.

De uns poucos segundos com Sandro

Que presta o abutre tributo ao pútrido.
Que para, emperra, empurra ao espasmo
do erro do eu doente 
na fuga fátua, infinda, infame. Instala-se em nós,
em tudo de tudo que tanto teimamos em ter.
Os temas de toda toada que vão e vêm,
perfazem, desfazem, refazem vidas.
É a vida,
meu bem.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Dois traços

Sóis e sombras dividem a mesma rua.
Carros importados, importantes escolhas.
Os abrires mão sem fechar os olhos.
Indizíveis pesares pagam tudo
o que és.
Não há de restar deveres
consigo.

Paisagens rasgam-me.
Absorvo-me em ti que,
dentro de mim,
me és.
Deus, amor, equilíbrio, sorte, surto, infortúnio:
balcão da vida.
E a pena a traçar serenas
linhas.