domingo, 13 de janeiro de 2013

escrever: expor-se, atirar-se
oferecer-se ao ridículo
confessar-se 
escrever é o porre-pós-porre
admitir-se isto; tão relesmente: isto.
induzido o tempo todo a mentir
ou calar
obrigado a vida toda a conter
a pesar

pra viver
Numa noite assim tão linda
deviam ser proibidos por lei
a incerteza, a tristeza, o cansaço
de qualquer pensamento
porém a lei humana
a poesia dos dias não lesa
e o que se contradiz
entre as belezas e mazelas
é o que faz a mesma poesia da noite
maldita, perdida e sofrida
também assim
tão bela.
É que era mesmo um casal que nada mais tinha a oferecer. Já haviam lutado, se conquistado e amado mais que loucamente. Há tempo o fogo abrandara. O que faltava, realmente, era a lágrima misturada ao sangue, a madrugada insone, a perambulação insana pelas ruas e vielas da cidade, do coração e da mente. Faltava o abraço no vácuo na hora do colchão e do café pra dois. Faltava o porre deprimente, a ligação envergonhada, a saudade ora assumida, ora forçosamente suprida. E faltava a pergunta, a fatal pergunta da hora da morte, a morte que tarda mas não falha: Vocês ficaram?
Algo retesado fica algo choro preso fita presa enrolada risco em disco na vitrola algo engasgado engasgadão. Fica uma aflição fica algo insuspeitado e todo cheio de tensão o que talvez seja pior ou assim não. Fica não saber por qual eu e como andar poderia ser então assim melhor eu não sei não. Fica essa visão de quão escura escuridão. Fica claro e fica não.