domingo, 21 de fevereiro de 2016

Quintana

Justamente a contradição afirma o ser feliz
Mora na falta, na insatisfação, no carecer a busca
No infeliz
Mora no descontente
No estupefato
No grito preso de revolta
No inútil grito a desdizer a própria sorte
Na tinta oca da caneta do poeta.
Reside no impossível
A transformar
Realidades tristes
Tornar real
O belo
No já triste concebido:
O mundo.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Vizinho novo no prédio
Relâmpagos, carros, crianças correm
Um escorregador no parque
A menina, e a mamadeira, e a mãe levando as compras, e o olhar de espanto ao aceno
Jazz de Woody Allen
Junto ao som da chuva
E da nova vista
Novas vistas sempre fazem som em mim
Casa nova, vista nova, nossa nova poesia vista assim.
Ofusca
O sol, meio que ofusca, é filtro
É filtro, e meio que ofusca, o filtro
Brilha e ofusca o fosco
Não sei se é fosco
Ou, se o que faz
Ofusca
Se, pela falta de filtro
Faz-se fosco
Não sei bem de cada uma
Seu significado
É só um jogo reles de palavras.

Nome do poema: Bebeu

fez um poema de amor à vida
sem escrever
sem dizer não
sem dizer nada que dissesse algo
que toda hora tanto pedem
sempre pedem sim ou não
sempre pedem que seja, ao menos,
sim, ou não, ou sim e não, ou, pelo menos, um sim e um não
ou, pelo menos
nem sim nem não
e ele disse
nem sim nem não
ele não disse.

A culpa é do caranguejo (um poema que fala de amor)

Vida dor
Saudade constante do que ainda não se foi
Lua nova,  prazeres do sempre todo
Um sempre esfriar das entranhas
Um curto tiro são três anos
O aprendizado fica ainda que tantas vezes desafine
A música dos dias ganha novas cores
Sempre todo dia
Os acordes da canção vida nos grita a vida que é sempre hoje
(A vida urge)
Três anos é tão pouco e é tanta coisa
Um tiro curto essa nossa paixão por vida
A aula insuportável
A sublime aula
O café
A cerveja do matar aula qualquer
Ou qualquer aula
(Importa mesmo é a sede)
Um frio, um frio que mostra
O quão quente ainda está
O nosso amor

A poesia de todo dia desenha as linhas novas do que de novo está por vir
Pessoas ficam
Gente é o maior aprendizado
Ainda que por tantas vezes o aprendizado desafine
Mas nossa luz evoca a mais linda canção de amor
E nossa luz existe apenas
Na conjunção de nosso ser
Eu sou vocês,  vocês me têm
E somos um
Amor.

Passagem de ida e volta (um poema de amor a elas)

Numa viagem que fiz de ontem pra hoje
tenho a impressão de ter lido um poema
bonito
falando sobre uma boa menina
forte
e bonita.
Irredutíveis, meus ais mostraram-me saber nada, eu
da vida
durante a volta
(como foi sofrida a volta).

Li, durante a viagem, um poema sobre uma moça forte.
Quando voltei um' outra bela moça
forte
(mas que bela!)
perguntava-me sobre ele.
Havia, na verdade, feito a pergunta um dia antes
(creio que durante essa viagem).

Fiz uma viagem sofrida
(Mas que sofrida!)
Em que conheci um poema sobre uma bela menina bela
bem forte.
Conheço algumas belas meninas belas
(Mas que belas!).
Os bons poemas parece que sempre cativam-me
não mais, porém, que as belas moças.
Essas, em especial
a menina do poema
(pois estava também ela, existente, a moça que já existe, no poema)
e a que perguntou sobre o poema.
Mas que belas!
São meninas extremamente belas!
Todos os dias me apaixono
por elas.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Fruição

Reside na pressa o insalubre
O insaciável
O insatisfeito
A infinda insatisfação
Ainda mais trágica
Nos inquietos seres
A insatisfação acima da ociosidade do sempre.

Busquemos a calma
O oposto à inútil celeridade dos dias
De todos os dias
À desesperada busca exacerbada
no todo sempre 
Por nada
Eterno nada que somos
Pois que nada sendo
Inútil mostra-se
Correr
Inútil mostra-se
a pressa
De vida
A açoitar o deleite
Da vida
O belo do existir
As cores nossas de cada dia.

Busquemos
na calma
No delicado fruir da calma
A salvação do encanto dos olhos
Há tanto perdido
Que há tanto perdemos
E adeus
À pressa.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Poema de um folião feliz

Diz o meu carnaval
Ser mais distante que alegre
Hoje, diz, o meu carnaval
Ser menos festa que outrora
Que dentre os risos das errantes serpentinas
Procura um mesmo eu e só encontra angústia
Nas luzes foscas só deixa-se iluminar
A dor
Esta, sim, de outros carnavais

Já fui jovem, sim, já fui algo antes
Hoje, sem nome, órfão de todas as cores de uma morta idade
De pecados outros
Quando ainda cria amar verdadeiramente
Quando ainda cria em mim

Hoje já nem mesmo pena, já nem mesmo por mim mesmo
Posso ousar sentir crendo que sinto
De verdade, verdadeiramente
Um pleno amor carnavalesco carnaval.