Ela andava fumando mais que Bukowski e
aquele personagem de Cássio Gabus Mendes em Nelson Rodrigues e também o próprio
Nelson Rodrigues. Madeleine esquivava-se, debatia-se, contorcia-se, puxava e
esticava os culhões da porra daquela paixão cansada e vadia. Madeleine
enveredava pelos tortuosos caminhos do silêncio e da dor contida para tentar se
achar, mas só se perdia mais, pois quando abria a porra daquela boca só merda saía. Madeleine não falava coisa
com coisa quando tentava falar. E tudo o que pensava era tudo o que sabia e
tudo o que sabia prometia ser de uma perfeição e clareza tão irretocáveis
quanto as unhas bem cuidadas. Mas se mostrava mesmo era tão assustador quanto
sua feição insana e tão podre quanto as frutas abandonadas na mesa, compradas
num momento de fé. Madeleine era bela. Madeleine era feia também. Madeleine era
tudo que Madeleine sempre quis ser, mas tão mal se fazia. Madeleine andava
confusa, mais do que sempre. Madeleine sentia tanto medo à flor da pele que
queria da pele arrancar o medo com as unhas. As unhas já não mais tão
belas e bem cuidadas. Até hoje me lembro do dia em que Madeleine me olhou com
aqueles olhinhos tão tristes e cansados dela e de mim e de tanto amor
por ela e por mim e por nós e me disse: você é uma pessoa bacana, talvez a
única no mundo com alguma chance de me compreender, e há de me
respeitar. Madeleine vive até hoje em mim.
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