sábado, 9 de março de 2013

Madeleine


Ela andava fumando mais que Bukowski e aquele personagem de Cássio Gabus Mendes em Nelson Rodrigues e também o próprio Nelson Rodrigues. Madeleine esquivava-se, debatia-se, contorcia-se, puxava e esticava os culhões da porra daquela paixão cansada e vadia. Madeleine enveredava pelos tortuosos caminhos do silêncio e da dor contida para tentar se achar, mas só se perdia mais, pois quando abria a porra daquela boca só merda saía. Madeleine não falava coisa com coisa quando tentava falar. E tudo o que pensava era tudo o que sabia e tudo o que sabia prometia ser de uma perfeição e clareza tão irretocáveis quanto as unhas bem cuidadas. Mas se mostrava mesmo era tão assustador quanto sua feição insana e tão podre quanto as frutas abandonadas na mesa, compradas num momento de fé. Madeleine era bela. Madeleine era feia também. Madeleine era tudo que Madeleine sempre quis ser, mas tão mal se fazia. Madeleine andava confusa, mais do que sempre. Madeleine sentia tanto medo à flor da pele que queria da pele arrancar o medo com as unhas. As unhas já não mais tão belas e bem cuidadas. Até hoje me lembro do dia em que Madeleine me olhou com aqueles olhinhos tão tristes e cansados dela e de mim e de tanto amor por ela e por mim e por nós e me disse: você é uma pessoa bacana, talvez a única no mundo com alguma chance de me compreender, e há de me respeitar. Madeleine vive até hoje em mim.

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