quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Meus restos

Por que seria a merda de tão mau cheiro? E o perfume, diferentemente, tão agradável às nossas narinas? Por que não o contrário?

Num desses dias atrás, em meio a uma má sucedida limpeza em meu ânus, pus-me a pensar nisso enquanto cheirava o cantinho de minha mão onde ficara depositada uma boa quantidade do que minhas entranhas haviam liberado para o mundo. Pensava eu num saboroso nuggets, no restilo da usina, num caríssimo perfume francês, e no imensurável poder de meu ventre. Passei a aproveitar, a curtir aquele momento único, eu e meus restos... Restos gigantes de um fim de semana mal resolvido, de inseguranças, muito medo e desejo pelas perfumadas damas da noite, pelo odor anestesiante da madrugada, pelo cheiro de vida em mim. Apaixonei-me por aquele aroma fustigante e atroz, o único aroma verdadeiramente revelador.

2 comentários:

  1. "Treva e fulguração; sânie e perfume;
    Massa palpável e éter; desconforto
    E ataraxia; feto vivo e aborto...
    - Tudo a unidade do meu ser resume!

    Sou eu que, ateando da alma o ocíduo lume,
    Apreendo, em cisma abismadora absorto,
    A potencialidade do que é morto
    E a eficácia prolífica do estrume!

    Ah! Sou eu que, transpondo a escarpa angusta
    Dos limites orgânicos estreitos,
    Dentro dos quais recalco em vão minha ânsia,

    Sinto bater na putrescível crusta
    Do tegumento que me cobre os peitos
    Toda a imortalidade da Substância!"
    (Augusto dos Anjos - Revelação II)

    Ante o seu confessionário de escatologias existenciais, este soneto me fustigou a memória. Advertido, elaborei: como processar o travo e o azedume das palavras que regurgito? Será que meu corpo traduz - em si mesmo - a fetidez do meu espírito?
    Alma detonada. Nasci metano!

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