quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Talvez um dia

Talvez um dia eu me lembre
de como passei a traçar
tristes e felizes traços
do que sou aqui.
Talvez um dia passe a entender meus amores
e toda a incoerência
visando seu não entender.
Talvez um dia eu passe a falar de política
como quem finge e convence
saber até poesia.
Talvez um dia eu passe a entender os poemas
sobre os quais falo e não falo;
sob os quais bordo meus dias.
E minha azia assim passe
como quem passa distante
e, assim, nem mais necessário
se faça minha vigília.
Talvez um dia, um moço decente.
(Talvez num dia indecente.)
Talvez um dia me encaixe.
Talvez um dia, a revolta.
Converse sobre a carreira dos grandes astros do rock;
o mal; o bem; meu eu no mundo.
Talvez um dia eu leia Os Lusíadas; Dante;
Bovary no original.
Mas, acredito que, acima de tudo e com tudo,
talvez um dia eu descubra
em meu grosseiro, comum e vazio distúrbio, meu eu inteiro.
E, como quem chega agora, pisando estranho terreno,
descobri-lo possa familiar.
E, assim, me saiba
de mim.

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