segunda-feira, 13 de maio de 2013

A não saber o quê

I
Não sei de mim.
Mesmo quando lembro 
do que fiz, como fiz, 
por que e por onde pensei
pra chegar a fazer,
não lembro ao certo.
Porque também não sabia ali, ao fazer.

De mim sou nada.
Nem parente distante, nem amigo íntimo.
Eu não tenho ideia 
nem da vaga ideia
da chance que tenho 
em ser o que não sei.
Eu não tenho a mais vaga ideia
da mínima vontade
ser mínima, ou não ser, 
ou se, quem sabe,
talvez só ainda não seja
descoberta, ou redescoberta,
a vontade em mim
de alguma coisa eu ser.

II
Eu não sei se me preocupo
em com algo preocupar-me.
E, se me preocupo,
nunca sei o quanto devo
me preocupar.
Eu não sei o quanto devo
elevar meu rosto e meu pensar
de modo a ficar,
de cara pro vento,
disponível.
Ou, de cara pro vento,
livre.
Eu não sei o que pensar sobre o que pode
e não pode
ser
livre.
É tanta gente, são tantos livros, e poetas,
e discursos,
que eu não sei
o quanto vale sua dose de mentira
ou o quanto deve haver verdade em mim
para que, assim, seja
indiscutível dogma meu.
E eu fico puto quando, então, assim percebo
o quanto preso
eu sou a tudo que não sou 
e não entendo,
o quanto faço questão
de não ser
livre.
Penso
e fico mais preso.

III
Eu não sei o que pode ser
chamado por mim,
diante de tão dogmáticas maneiras de se quebrar
um dogma,
de liberdade.

IV
Fala alto dentro do meu peito
essa imensa mania - chega a ser crença,
de alguém que, com o tempo,
de repente cético se percebe,
de em tudo querer dar cabo
com uma única imaginação,
tantos sonhos
e nenhuma ação.

V
Não entendo o texto,
tão menos os adendos
e observações
que faz o leitor
anterior a mim.
Pra mim é triste sina
não saber por onde veio
a folha de pagamento, a nota de um real ou dólar,
e tão menos entender
de tudo que tanto entendem.
E eu não sei conversar.

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