De um lado a outro do
barulho de estilhaços no pensamento.
Não durmo. Não
respiro. Não escrevo poesia.
Não morro. Não dou
conta de viver assim.
De dentro da caixa dos
olhares que me restam.
Olhos meus. Lassos,
passivos e distraídos. Imperfeito eu.
O olhar a retribuir
cada sentença.
Não me julgo, não me
calo, não me morro. E morro sempre.
Toda dia nove
morte.
Sou ourives. Sereia a
se contorcer às portas do tédio. Debatendo-se no óleo raso de
fritura suja.
Metais de lixo
preciosos me têm a todo instante.
Não me ponho, não me
exponho, não vivo, irresisto a mim, não existo. Não vivo, é tiro
curto.
Mas não morro, e não
resisto à vida que se arrisca.
A vida a brincar de
morte.
Poeta tolo e cansado. O
mais disposto.
Não me mostro, não me
exponho, não me privo.
De nada, nada.
Deixo a mim o nada.
Legando o espaço
físico imenso e vazio das caixas do pensar cheias de carroças
vazias.
Um tom confessional que
rege a orquestra dos dias.
Ó, dias. Ó frouxidão.
Roleta russa maldita...
Eterna brincadeira de
morte.
Mas não, não vivo.
Não durmo.
Escrevo poesias na
madrugada.
Cansada madruga em meio
ao eterno odor de cachaça, solidão, tédio e besteira.
Cansada madruga.
Não, não morro.
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