sábado, 28 de junho de 2014

Uma outra ode à Aflição

De um lado a outro do barulho de estilhaços no pensamento.
Não durmo. Não respiro. Não escrevo poesia.
Não morro. Não dou conta de viver assim.

De dentro da caixa dos olhares que me restam.
Olhos meus. Lassos, passivos e distraídos. Imperfeito eu.
O olhar a retribuir cada sentença.
Não me julgo, não me calo, não me morro. E morro sempre.
Toda dia nove morte.
Sou ourives. Sereia a se contorcer às portas do tédio. Debatendo-se no óleo raso de fritura suja.
Metais de lixo preciosos me têm a todo instante.
Não me ponho, não me exponho, não vivo, irresisto a mim, não existo. Não vivo, é tiro curto.
Mas não morro, e não resisto à vida que se arrisca.
A vida a brincar de morte.

Poeta tolo e cansado. O mais disposto.
Não me mostro, não me exponho, não me privo.
De nada, nada.
Deixo a mim o nada.
Legando o espaço físico imenso e vazio das caixas do pensar cheias de carroças vazias.
Um tom confessional que rege a orquestra dos dias.
Ó, dias. Ó frouxidão. Roleta russa maldita...
Eterna brincadeira de morte.
Mas não, não vivo.
Não durmo.
Escrevo poesias na madrugada.
Cansada madruga em meio ao eterno odor de cachaça, solidão, tédio e besteira.
Cansada madruga.

Não, não morro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário