Ao som
das teclas do piano, o maestro coordena os passos do homem que, de
costas, vai em direção ao precipício. A melodia acelera, reduz,
valsa um tango numa só torrente, acelera como nunca e, no limiar da
aurora, um staccato solitário breca a morte e arranca suspiros de
agonia sucedidos por aplausos da plateia ensandecida: paixão e medo.
Parece até o amor de nossos tempos; dos idos, e presentes, e
vindouros tempos. Como a mulher e o homem, como o amor que nos induz
a um novo tombo que nunca cai de vez. Que é sempre o mesmo tombo,
mas que é sempre novo. Lentamente, a melodia recomeça, público em
alerta. O homem não treme (artista maior). Deve ser ele (não sei),
ou o maestro, ou ainda a música inaudível que, mediada pelos ares,
conduz o risco, a tensão, a paixão e a tirania. Que nunca cessa.
Recomeça a melodia. O homem, bailarina, conduz o coração, sem
notar que é conduzido. Mas sente o cheiro da morte: staccato. A
paixão que nunca cessa.
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